15 agosto, 2008

quarta-feira, 1 de março de 2007


TEM-QUE-IR

(ou em outras palavras: porque todo mundo se diverte tanto e se sente tão vazio)

Ainda bem. O ano começou. Vamos viver, acabaram-se os meses do TEM-QUE-IR. Você tem que ir para a praia no reveillon, você tem que ir para a casa de campo no meio do mês, você tem que ir para o "paraíso tropical" no final de semana, não interessam os mosquitos, a falta de grana, você TEM-QUE-IR. Está combinado. Malas prontas, repelente na mão, vá! Você tem que ir para o show do Rolling Stones, você tem que ver de perto o U2, você tem que se acabar ao som do Fatboy, você tem que ir naquela rave sensacional que começa às 6 da manhã, você tem que estar naquela festa chiquérrima com champagne e gente que não sorri. Sinto informar. Mas você TEM-QUE-IR. Não se sabe se o Bono Vox voltará ao Brasil, não se sabe se o Mick Jagger estará na "Satisfaction" daqui há alguns anos, não se sabe se a champagne do mundo acabará de repente, nem tão pouco sabemos se estaremos aqui. Então, calcule seu tempo. Você não tem escolha. Sua única obrigação é ir, se divertir, ser feliz, custe o que custar. Não tem essa de preguiça, falta de espaço, falta de vontade, trabalho, ressaca e um vazio que volta junto com a pilha de roupa suja. Todo mundo vai. Então, você TEM-QUE-IR. E tem mais: você TEM-QUE-GOSTAR. Pague 500 reais por um convite, enxergue a banda pelo telão, cante o único refrão que você sabe de cor e volte com aquela decepção inconfessável no peito. Não, você não teve decepção alguma. Você A-D-O-R-O-U! Tudo bem que agora você está no vermelho, você quase entrou numa briga, perdeu sua afilhada no meio da multidão e na música que você mais gostava um psicopata vomitou em cima do seu pé. Mas quem importa? Seu amigo amou, a mídia amou, o mundo amou. Então você também amou. Ou será que você tem algum problema? E o TEM-QUE-IR não pára, a diversão te chama. A mala fica pronta debaixo da cama, a pele descasca mas você não perde a cor. Afinal, é carnaval. E você TEM-QUE-IR. Você tem que sambar, tem que beber, tem que perder o juízo, tem que se jogar, tem que beijar, tem obrigação de ser feliz durante 4 dias e 4 noites para contar timtim por timtim quando a festa acabar. Acabou? Ainda não. 4 dias tornam-se 8. Você tem que saber o que é Psirico, cantar de cor um funk que rima cuscuz com avestruz, pagar micos homéricos, ver a Carla Perez de entrevistadora e cair na avenida sem parar de pular. Cansou? Ufa! (Eu cansei sem sair do lugar...). Mas chegou a tão sonhada quarta-feira de cinzas! O TEM-QUE-IR deu um tempo (pelo menos por enquanto), haja saúde, dinheiro, paciência e dor na consciência de TEM-QUE-IR tanto, sem TER-QUE-SER nada. Se a diversão virar obrigação, vai chegar um dia em que a gente vai achar que felicidade é IR e não SER. E vai ter certeza que viver se resume ao próximo final de semana, ao próximo feriado, ao próximo show, à próxima viagem. (Vazio, não?) Eu não quero isso. Também não quero ser moralista. Muito pelo contrário. Vejo pessoas nesse ir-e-vir e o que enxergo é muito cansaço por pouco sorriso. Diversão não é sinônimo de felicidade. Mas pode ser. Basta se encontrar antes de sair. Aí não é preciso pular de galho em galho, de festa em festa, qualquer lugar é lugar, sua identidade (e seus desejos) já valem o ingresso. É a garantia de um "Beautiful Day", ao vivo, dentro de você.

UM FELIZ COMEÇO DE ANO PARA TODOS!

2 comentários:

Milla disse...

Me devolve meus pensamentos? Ou melhor, devolve não. Porque eles também são seus. E você tem a vantagem de saber moldá-los da forma mais gostosa possível. Me desculpe se pareço repetitiva nos meus ocmentários, mas, como já falei em alguns deles, fico admirada, xocada, completa e feliz, por saber que alguém compartilha de ideias e pensamentos como os que direto me surgem, porém, sabe ordenar de maneira, para ser contida, tão bela. Me viciei. Não sei se vou dormir antes de terminar. Me encontro nos seus textos de uma forma tão ordenada que acho que é isso que me entusiasma. Algo organizado, coisa que não sou. Nem com objetos nem com pensamentos e sentimentos. E isso se estende à escrita. E tudo que sinto ao ler é uma laegria imensa e um desejo de que muitos e muitos livros seus sejam publicados, para eu colocar na minha cabeceira o coxilar em cima com um sorriso no rosto e um alívio no coração. Só posso dizer PARABÉNS!

Nayara R. disse...

Simplesmente amo seus textos, me identifico com todos, nem que seja em uma única frase. Mas nesse, em especial, me li do início ao fim. Sou eu hoje!
Parabéns pelo sucesso, inteligência e carisma. Também já vi os vídeos de "Crônicas Digitais".
Agora não largo mais o blog :)
beijinhos