foto: Alessandra Duarte |
04 agosto, 2015
Esconde-esconde
Minha vida é assim. Brinco de esconde-esconde. Conto até cem, abro os olhos, cadê? Procuro, procuro e não acho. Não me acho. Às vezes dou sorte e encontro um pedaço meu perdido, uma frase atrás do muro. Mas a verdade inteira, quem sou, com todas as letras, palavras e sentidos, parece estar sempre a frente. A um palmo do meu nariz. E eu me atrevo. Corro, tropeço, me aventuro e vou. Conto até cem (posso ir?), quero me descobrir por aí. Quem é aquela embaixo da cama, sou eu? Quem é aquela, atrás do armário, com um pedaço revelado para poder ser encontrada? Sou eu? Sim. Sou eu. Às vezes dou de cara comigo, levo susto, chego a não acreditar. Às vezes - como por encanto - me encanto. E existem horas que só vejo sombras, vazios, interrogações. São meus mergulhos fora de foco. Miopia emocional? Traga-me os óculos, por favor. Eu não quero perder nenhum pedaço meu. Eu não quero deixar de me encontrar por medo. Eu quero descobrir o que há de melhor e pior em mim, minhas verdades, meus silêncios e me amar e me aceitar por inteiro. Quero me encontrar para me perder. Brincadeira que nunca acaba.
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