05 agosto, 2015

Passe Livre

Coluna Amanda Jéssica


Eu estava refletindo sobre como andamos tornando o mundo mais difícil. Crescemos ouvindo que temos que amar uns aos outros. Mas, quando nos tornamos grandes, esquecemos a essência desse aprendizado. Que criança é um ser muito mais puro, todo mundo está cansado de saber. Mas, nem por isso, a gente precisa involuir tanto.

Fui acumulando as coisas.

Há pouco mais de um mês, colocamos as fotos todas coloridinhas nos perfis do Facebook. A validade do casamento gay nos Estados Unidos fez com que nós comemorássemos tamanho "avanço". Dito isso, você deve estar se perguntando: "mas isso não é incrível?". É. Maravilhoso. Mas só celebramos dessa forma o acontecimento porque o outro lado existe. Enquanto pintávamos os nossos perfis de arco-íris, milhares de outras pessoas criticavam o fato de que, sim, "consideramos justa toda forma de amor".

Nem precisou de muito tempo. Dias depois, após voltar para casa em um dos poucos momentos em que posso me desligar do celular, ligo a WiFi e me deparo com a hashtag #somostodosmaju bombando. Para a minha surpresa - e não sei como ainda me surpreendo - estávamos nos unindo em mais uma causa. O preconceito da vez era com negros.

Parei para refletir um pouco. E fiquei tensa com a civilização que estamos nos tornando. Somos as gerações X, Y e Z todas misturadas e, ainda assim, juntas, não funcionamos como humanidade de fato. E não consigo me conformar com esse mundo assim, tão pelo avesso. Não é só preconceito com gay. Nem é só intolerância com negro. Simplesmente não aceitamos, com respeito e educação, aquilo que não nos convém, seja lá por que motivo for.

Até comentei semana passada: "Não aceitamos bem os carecas. Falamos mal dos cabeludos. Criticamos quem é muito alto. E chamamos de tampinha quem é baixo demais. Se a pessoa tem o cabelo ruim (ruim para quem?), sempre tem alguém para dizer 'não sei por que não alisa'. Se a pessoa alisa, tem um infeliz para dizer que não é natural. Se o cara é feio, tem quem faça piadinha. Se a mulher é bonita, deu para o chefe". Não aceitamos o diferente. E até aceitamos - ou fingimos aceitar - quando isso nos interessa.

Por coincidência, momentos depois, acabei por ler um texto que caiu como uma luva. Ele se chama "Agressividade is the new black". A propósito, leiam e entendam por que Ruth Manus é incrível. Olhem o que ela diz: "Acho que existe um erro de conceito. As pessoas passaram a utilizar a agressividade como um artifício para aumentar a própria auto-estima. Como as pessoas se sentem politizadas? Sendo agressivas. Como as pessoas se sentem informadas? Sendo agressivas. Como as pessoas se sentem engraçadas? Sendo agressivas. Como as pessoas se sentem menos ignorantes? Sendo agressivas".

Tá aí: a-g-r-e-s-s-i-v-i-d-a-d-e. Essa tem sido a palavra de ordem. Somos, mesmo, a geração A. De arrogante. Autoritária. Alienada. Agressiva. E Anti tudo aquilo que não nos agrada.

É crítica pra cá. Crítica pra lá. Estamos rodeados de dedos apontados. Não sei se por impunidade. Não sei se por necessidade de mostrarmos, a todo custo, que existimos.

O que eu sei mesmo é que, mais uma vez, Ruth estava certa, afinal, "pessoas inteligentes não jogam pedras. E pessoas equilibradas não berram". Talvez, esses poucos - mas incríveis - seres dotados de sensatez  sejam a nossa única solução. Não dizem que "a união faz a força?". Então, vamos nos unir. Pintar as fotos de várias cores. Dizer que #somostodosmaju. Não furar filas. Jogar o lixo em lugar adequado. Votar com consciência. E, até, escrever textos-desabafo, no intuito de fazer as coisas começarem a dar certo. De boa intenção, o inferno está cheio. Mas o céu também. E não custa nada tentar.

- Amanda Jéssica
@amandajessicab
@coisasdestavida_
www.facebook.com/amandajessica.96

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