04 março, 2016

A Bruxa



Agora, a coluna do nosso queridíssimo Gustavo Rezende:

A sétima arte, em palavras - Gustavo Rezende

Uma aterrorizante alegoria sobre os mais primitivos instintos dos seres humanos: culpa, cobiça, inveja e luxúria. Assim pode ser descrita A Bruxa, coprodução entre Brasil, EUA e Canadá, que fez o maior sucesso no Festival de Sundance - saiu com o prêmio de melhor diretor - e na Mostra de Cinema de São Paulo. 
Abdicando dos famigerados "jump scares" (sustos fáceis), o filme investe na construção do medo genuíno, embutindo elementos e signos que gradativamente vão ganhando contornos macabros. Confesso que, em determinados momentos, o longa conseguiu mexer com as minhas estruturas, e me peguei desconcertado com os caminhos que a produção se propôs a percorrer. Repleto de conotações religiosas - observe a cena do jantar, uma clara alusão à Santa Ceia - A Bruxa conta a história de uma família que se instala próximo a uma floresta, após ser expulsa de uma comunidade por divergências religiosas. Assombrados por uma força maligna, cada membro dessa família terá sua vida radicalmente alterada, sofrendo consequências irreversíveis. 
O competente diretor Robert Eggers promove um trabalho intenso e sombrio, investindo em uma caprichada fotografia e uma eficiente direção de arte. Utilizando uma paleta de cores densa e uma cinematografia "suja", Eggers transmite - através das imagens - todo o íntimo de seus personagens, composto por uma profusão de sentimentos obscuros e lascivos. Contando com um elenco desconhecido, o diretor consegue explorar todo o talento e visceralidade de seus atores. Um dos destaques é a jovem Anya Taylor-Joy, que compõe o ponto de conflito do filme. Em um papel que transita em personalidades diferentes, a atriz entrega um personagem profundo, enigmático e vulnerável. 
Com um dos finais mais aterradores dos últimos tempos, A Bruxa prova que o cinema de horror não precisa de muita coisa para ser eficiente, basta saber construir uma atmosfera inquietante e ter uma boa história pra contar.

Gustavo Rezende (instagram @gustavosrezende) é publicitário, especialista em desenvolvimento de produtos cosméticos e amante da sétima arte. Criador do instagram @cinediario, contribui semanalmente com críticas, indicações e curiosidades sobre os melhores filmes.











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