Agora, a coluna do nosso queridíssimo Gustavo Rezende:
A sétima arte, em palavras - Gustavo Rezende
Dois
motivos me levaram ao cinema para conferir Mundo Cão: a direção do
sempre competente Marcos Jorge, e o fato do filme não ser uma dessas
comédias brasileiras "padrão-globo". Apesar de muitos problemas
envolvendo o roteiro, o ritmo e a edição, o longa consegue prender a
atenção do espectador e envolvê-lo em uma "montanha-russa de emoções".
Composto por um primeiro e segundo atos muito bem desenvolvidos, Mundo
Cão não tem pressa em nos apresentar os personagens principais e o
conflito central de seu roteiro. Apesar de ter apenas 1h40, o longa sabe
trabalhar os caminhos que levam os personagens a terem suas vidas
cruzadas. O sacrifício de um cachorro perdido, e o encontro entre o dono
e o profissional que o recolheu das ruas, desencadeará uma sucessão de
eventos trágicos e definitivos na vida de cada um dos envolvidos. Depois
de encantar o público e a crítica com o espetacular Estômago, Marcos
Jorge novamente utiliza um elemento de ligação entre os diversos
contextos de sua narrativa. Se no filme estrelado por João Miguel a
comida era o elo, agora os cachorros promovem a interligação dos
diferentes núcleos que o diretor idealizou para seu longa. Um trabalho
interessante, que lembra a trilogia da incomunicabilidade de Iñárritu,
composta por Amores Brutos, 21 Gramas e Babel. Se por um lado o diretor
acerta nos primeiros atos, ele se perde completamente no terceiro.
Promovendo escolhas equivocadas, salientando conveniências e adotando a
inverossimilhança de algumas ações, Marcos "pesa a mão" e desanda algo
que vinha funcionando muito bem. Ao final da projeção, me senti como se
tivesse ido a um show, e o artista tivesse deixado de cantar sua
principal canção. Um sentimento de frustração, movido pela sensação que a
apresentação poderia ser melhor. Além disso, o filme utiliza uma edição
claramente inspirada em Whiplash. Com efeitos de transposição de cenas,
cadenciadas por acordes de bateria, Mundo Cão não consegue o resultado
brilhante do filme de 2014. Aqui, a técnica soa deslocada e
descontextualizada.
Com
atuações impecáveis de Babu Santana, Lázaro Ramos e Adriana Esteves,
Mundo Cão é um filme forte e envolvente. Pena que faltou fôlego.
Um comentário:
Com atuações impecáveis de Babu Santana, Lázaro Ramos e Adriana Esteves, Mundo Cão é um filme forte e envolvente. Pena que faltou fôlego.
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