Querida,
Como vai a vida? Por aqui, nada no mesmo. Tudo acontece.
Gosto da segurança, mas prefiro dizer não ao tédio. Difícil conciliar. Difícil
conciliar lados meus tão opostos, eu que nunca fui certa. Certezas são tão
preciosas e ao mesmo tempo tão mornas, não sei se você me entende. Por isso
alterno. Me alterno. Por isso choro, escrevo, invento. Vivo cá, vivo lá. Li um
livro inteiro de Física Quântica, você consegue ver o universo como fórmula?
Elétrons, matéria, tudo saindo e indo para um mesmo lugar? Complicado. Ou pode
parecer simples, não sei. Eu quero entender o mundo, mas só consigo amar. Penso
que se entendesse um pouco de mim eu perceberia mais os porquês e sofreria
menos por nada. Mas eu continuo sentindo muito, intensamente, dolorosamente e
sem fim. Quando dói, dói muito. Corta, rasga, machuca e sangra. Quando fico
feliz, o mundo me engole, cada centímetro de pele vira universo, luz e energia.
Vibra! É uma felicidade plena, uma alegria inteira, você consegue sentir meu
coração daí? Então sinta! Pegue meu coração nas mãos e veja o mundo pulsar
dentro dele. Ah, minha amiga, esse coração me engole! Engole minhas palavras,
meu desejo, me alimenta. Uma bateria de mil volts, esse é o meu sentir. Existe
uma frase linda da Adélia Prado que diz: "uma noite estrelada vale a dor
do mundo". Ah, leio essa frase e fico submersa. Tanta coisa vale a dor do
mundo. Tanta coisa vale a dor do meu mundo. Você vale a dor do mundo. Nossos
amigos, família, os amores que temos e tivemos. Nossas tardes na praia. Ah,
como eu iria esquecer? Nossa Maitê vale a dor do mundo. Minha afilhada vale a
dor do mundo. Imagine você que outro dia ela me entendeu com um único olhar e
choramos juntas em silêncio porque comunhões valem as dores que deixamos de
ter. Coisa mais linda isso. Como eu viveria se não tivesse vocês? Quantas
bocas, gostos, cheiros, frases, peles, abraços me valem e sempre me valerão as
dores desses e de tantos outros mundos? Desculpe, minha querida. Eu não sou
linear. Eu não sou uma pessoa terminada, eu não quero rótulos nem roteiros
prontos, não existe começo nem fim em mim. Eu existo. Não sou produto, sou só coração.
Vivo em um meio que me parece eterno. Um meio que me faz escrever, ser e mudar
a cada dia. Se eu começasse a escrever minha vida, seria assim:... Percebe? Eu sei que sim. Eu sou
reticências. Sou 3 pontinhos. Sou o não-dito. Sou emoção e desejo. Palavras são
o meu antídoto. Antimonotonia, anti mau-humor, anti todo o amor que não há. Por
isso hoje, especialmente hoje, em que nada de especial acontece e tudo ao mesmo
tempo respira, eu te digo: obrigada por se lembrar de mim do outro lado do
mundo. Você está em mim e eu em
você. Porque Einstein ensinou, meu coração confirmou. Eu
tirei zero em física, o coração está em eterna recuperação. Mas a vida? A vida,
eu não sei. A vida, eu aceito. Aceito viver sem entender. Assim como aceito
minha falta de jeito, minha eterna saudade e essa vontade de ser tantas e tanto
e ter apenas um coração.
Parabéns, amore! Obrigada pelos mais de 20 anos de amizade! TE AMO.
3 comentários:
Lindo texto =) Você INSpira!
Incrível! Ela me define sem me conhecer...
Que linda!!
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