04 abril, 2013



A COR DA CORAGEM

Eu não gosto de me definir. Eu não gosto de definições. Mesmo porque nunca consegui. Entrego-me, então, ao mundo sem compreender. Não sei se sou mais perturbada ou perturbadora, como você disse. Talvez seja uma coisa e outra. Nem uma coisa nem outra. Ou viva intercalando ser e não ser, conforme o dia. Isso importa? Você pensa que me apanha numa simples definição? Definições são limitadas. Asfixiantes. Eu prefiro a liberdade de não saber. De poder mudar. Experimentar o novo. Provar o gosto... (Sentiu?)

Hoje, por exemplo, resolvi ficar o dia inteiro sem fazer nada. Quero o telefone fora do gancho. O celular desligado. Folhas rabiscadas. E algum chocolate. Nós, mulheres, temos direito a mais neuroses e doces por motivos biológicos. Temos autorização universal para sermos complicadíssimas e continuarmos interessantes até para nós mesmas. (Sabia?).

Mas o que eu quero mesmo que você saiba é que minha vida é muito maior que meu dia. E isso me traz uma angústia enorme. Sinto que as horas passam depressa demais sem que nada de especial seja feito. Talvez – eu disse talvez – eu precise aceitar que essas simples horas me trazem o que necessito para um não-sei-o-quê que me move. Um não-sei-o-quê que eu intuitivamente sei o que é, mas que me nego a dizer com medo de deixar de ser, como por encanto.

Eu não tenho muitos medos. São poucos, acredite. Às vezes me sinto forte, às vezes me sinto frágil. Mas tenho dentro de mim a coragem de acreditar. Não é bom sentir isso? Li uma vez que a palavra CORAGEM vem da mesma COR que forma CORAÇÃO. Não é bonito isso? Agora sim! Temos a cor dentro da gente. A COR da CORAGEM. A COR do CORAÇÃO. Não pense – com isso – que eu ando atrás só de “belas coisas”. Eu quero qualquer coisa desconexa, contraditória, insegura, ambígua, não tem importância. Desde que seja sua. As definições exatas e perfeitas não me satisfazem. Já disse. Eu não sou assim.

Se, depois de ler tudo isso, você não disser nada, não tem importância. Se você não diz é porque há muita coisa dentro de você. Mas isso eu já sei. Peço então que me estenda a mão.

Pode ser?


Ps: Amanhã tem Consultório Psicopoético! Para participar, só mandar email para contato@fernandacmello.com

6 comentários:

Helena de Oliveira disse...

Um dos seus textos mais lindos!

Mara disse...

Lindo demais. Amei! Você é ótima, Fernanda.

Anônimo disse...

Fernanda, suas palavras são sempre maravilhosas e me identifico de uma maneira que parece que foi eu mesma quem as escrevi. Tenho seu livro e não me canso de reler.

Fernada, desculpe-me a indiscrição, mas gostaria de tirar uma dúvida. Quando você lançou o novo site, lançou está coluna com a seguinte definição: "A coluna "Do fundo do baú" é um espaço onde irei postar, todas às quintas-feiras, trechos e poesias dos meus antigos caderninhos (nunca antes publicados)".

Minha dúvida é? Onde estão os textos nunca antes publicados? Sempre que leio a coluna nas quintas-feiras são textos já amplamente difundidos, nem por isto menos cativantes, mas gostaria de saber onde estão as novidades?
Muito obrigada e ótimo final de semana!
Lilian Santos

Paula Hanser disse...

Amei esse novo blog e essas palavras antigas!!
Lindo demais, como sempre!

keila campos disse...

Ahhh que lindo seu texto.. putzz, fala de mim pra mim. ameii parabéns!!!

Anônimo disse...

consultorio psicopoetico?

mto "carpinejar" isso!